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O PREÇO DAS MÁSCARAS - Quando a mentira apodrece o rosto e corrói a alma

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Vivemos em um tempo em que as máscaras se tornaram parte do vestuário emocional das pessoas. Não falo das máscaras físicas, mas das simbólicas, àquelas que escondem verdades, omitem intenções e fabricam identidades que jamais existiram. Sob o verniz brilhante dos sorrisos ensaiados e das posturas cuidadosamente calculadas, das imagens de falsos puritanos, das mentiras que surgem ao ouvir pessoas contarem histórias que nunca tem a mesma versão na próxima vez que são contadas. Muitos se perdem de si mesmos, acreditando que podem sustentar indefinidamente uma imagem que não lhes pertence, uma imagem que não existe.


Mas, como sempre acontece com tudo aquilo que é falso, a verdade tem paciência, mas não tem limites. Ela espera, observa e, no momento certo, aparece, na maioria das vezes ela vem silenciosa ou acompanhada de sinais, mas quase sempre é devastadora, arranca e manda pra longe sentimentos, com força de tudo aquilo que o indivíduo passou anos tentando colar no rosto: a máscara.


A reflexão de Sâmara Santana Câmara ecoa como um lamento e um alerta:“Quantas máscaras cabem no teu rosto? Pobre rosto! Tão novo e tão podre! Apodrecendo na dor de não se permitir.”


Há algo profundamente simbólico nesse “apodrecer”. A máscara pode até proteger por algum tempo, pode até criar a ilusão de felicidade ou força, mas também impede o rosto e a alma de respirar. A mentira sufoca. A falsidade corrói. O fingimento, por mais glamouroso que pareça de fora, tem o cheiro daquilo que se deteriora por dentro.


E o mais trágico é que muitos se acostumam com esse processo. De tanto fingir, desaprendem a sentir; de tanto se esconder, perdem a própria identidade. Como continua o poema:“Quanto tempo faz que você não sorri de verdade?”


Essa pergunta é um golpe direto, porque aponta para a realidade dura dos que vivem da performance emocional. Pessoas que colecionam expressões ensaiadas, discursos perfeitos, comportamentos estratégicos, tudo para manter uma aparência que não se sustenta quando estão sozinhas.


Mas há também a dimensão ética e moral desse disfarce. A máscara não serve apenas para esconder fragilidades; muitas vezes, serve para manipular, para explorar, para enganar. Pessoas que se alimentam do rancor, como diz Sâmara, não apenas vivem presas ao próprio veneno, fazem questão de respingar no mundo.


E o fazem com habilidade. Os falsos sabem sorrir, sabem abraçar, sabem elogiar e sabem, sobretudo, representar.


A máscara é a ferramenta dos que nunca tiveram coragem de ser quem realmente são.

Há quem pense que viver de aparências é sinal de esperteza. Há quem se orgulhe de manipular ambientes, de seduzir com palavras falsas, de ocupar espaços que não conquistariam se fossem autênticos.


Mas há um ponto inevitável: a máscara exige manutenção constante. É preciso lembrar o que já foi dito, ajustar o comportamento de acordo com o público, fabricar justificativas, criar personagens. É cansativo, como também é desgastante e desonesto. Mas o pior de tudo isso é que é inútil.


Porque, cedo ou tarde, como afirma Caroline Germano,“não é a felicidade que incomoda. É a falsa felicidade. As máscaras e as mentiras ou a falta de caráter mesmo.”


O que fere as relações humanas não é a imperfeição, todos nós somos imperfeitos, a ferida que foi aberta está na falsidade. O que destrói a confiança não são erros, todos nós erramos, mas sim a manipulação intencional, a duplicidade, o teatro emocional.


A máscara, quando usada com o propósito de enganar, revela o oposto daquilo que tenta esconder: Falta de caráter, falta de coragem e falta de verdade.


As pessoas acreditam que enganam o mundo, mas, na realidade, enganam apenas a si mesmas. E quando percebem, já estão tão envoltas na própria ilusão que perderam totalmente o caminho de volta.


Uma frase referencial expõe o contraponto da autenticidade frente à mascarada social:“Não poderia eu viver de mentiras, de máscaras e interesses. Não sou assim, não piso em ninguém pra conseguir o que eu quero.”


Aqui, surge um imenso contraste. De um lado, a pessoa que vive do artifício; do outro, aquela que reconhece que a verdade, mesmo que dolorosa, é o único caminho que sustenta uma vida digna.


Viver sem máscaras é mais difícil? Sim.

Exige coragem? Sem dúvida.

Pode trazer decepções? Muitas.

Mas também traz leveza.

Traz consciência.

Traz dignidade.

E, sobretudo, traz liberdade.


Aqueles que não usam máscaras são muitas vezes chamados de ingênuos e até mesmo loucos, justamente porque não estão dispostos a jogar o jogo da hipocrisia. Mas o que muitos chamam de ingenuidade é, na verdade, grandeza. É ter convicção suficiente para não precisar se disfarçar.


É por isso que, no texto, a autora afirma com força:“Ainda acho que o talento fala mais alto e que o sentimento move o mundo.”E acrescenta, com a franqueza que falta aos mascarados:“Vou ser feliz e já volto.”


A autenticidade provoca, incomoda e expõe aqueles que constroem suas vidas sobre fundações instáveis de mentira. O falso teme o verdadeiro porque nele vê o reflexo da sua própria miséria moral e ética.


A metáfora da máscara é poderosa porque revela o impulso humano de se proteger, mas também denuncia a covardia de quem se esconde para ferir. Para alguns, a máscara é escudo, mas para outros, é arma.


Mas a verdade, essa teimosa, é implacável. Ela aparece nas rachaduras, nas contradições, no gesto impensado, no deslize da fala. A máscara cai sempre, e quando cai, o rosto que aparece geralmente está mais deteriorado do que aquele que tentava esconder.


Como no poema de Sâmara: “Não arruíne o seu coração. Não perca tempo, a vida é bela.”

E aqui está a chave: Quem usa máscara destrói primeiro a si mesmo.


A mentira pode até abrir portas, mas não mantém nenhuma aberta por muito tempo.A falsidade pode até seduzir, mas não sustenta vínculos reais.A hipocrisia pode até conquistar aplausos, mas jamais gera amor verdadeiro.


A máscara oferece ganhos imediatos — mas cobra preços altíssimos.


As máscaras sociais, emocionais e morais parecem confortáveis, mas são frágeis. Por baixo delas, cresce sempre a podridão do que não foi enfrentado. Quem vive de ilusão se alimenta do próprio rancor; quem vive de verdade se alimenta da própria paz.


A autenticidade exige coragem, mas é a única forma de vida que não apodrece. A máscara exige performance, mas é a única forma de vida que sempre desmorona.


E, quando desmorona, mostra o que sempre esteve lá: a essência verdadeira do indivíduo, seja ela boa ou ruim.


No fim, portanto, não é a máscara que define a pessoa. É aquilo que ela tenta desesperadamente esconder.


Porque, por mais que se disfarce, a verdade sempre encontra um jeito de aparecer.


E quando chega, revela quem tem caráter e, quem apenas insiste em dizer que tem um.

 


Por: Weber Negreiros

W.N Treinamento, Consultoria e Planejamento

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