CHOQUE ÉTICO DAS LEIS DO PODER 38 - Pense como quiser, mas comporte-se como os outros
- Weber Negreiros
- 22 de out. de 2023
- 5 min de leitura

Verdade sempre será verdade; mentira sempre será mentira; o certo sempre será o certo; o errado sempre será errado; o honesto sempre será honesto e o malando sempre será malandro; e o ser humano sempre será ser humano? Infelizmente somos tidos pela ciência como um povo racional, que pensa e progride, mas começo a ter dúvidas do que somos capazes de verdade. Ao questionar regras universais estamos nos comportando como as máquinas que criamos, que ao invés de nos servir, servem a propósitos nada humanos.
Essa semana vamos abordar a lei que considero carregar a hipocrisia do ser humano na prática. Pensar como a minoria, mas falar como a maioria é a ratificação de que a zona de conforto existe e é habitada pela grande maioria. Não é uma das tarefas mais fáceis remar contra a maré, pois considera-se o fato de divergir uma ofensa, pois você estará condenando a opinião do outro. Com isso, viram-se contra você os olhares dos descontentes que consideraram sua postura como uma censura ou desrespeito contra alguém.
Como disse Baltasar Gracián (1601 – 1658): “...a verdade é para a minoria, o erro é tão comum quanto vulgar. Nem o homem sábio deve ser reconhecido pelo que diz no mercado, pois ali ele não fala com a sua própria voz, mas com a turba universal, por mais que seus pensamentos mais íntimos possam contradizer isso: o homem sábio evita ser contestado com tanta perseverança quanto evita contestar; a publicidade da censura é negada ao que prontamente a provoca. O pensamento livre não pode e não deve ser coagido; retire-se para o santuário do seu silêncio, e se às vezes se permitir quebrá-lo, que seja sob a égide de uma discreta minoria ...”.
Uma lei que expõe claramente um mundo camaleão e que prega a zona de conforto como o melhor lugar para se viver. Será esse o melhor caminho?
Veja o que diz a lei 38, do livro “As 48 leis do poder” de Robert Greene:
Lei 38: Pense como quiser, mas comporte-se como os outros – Se você alardear que é contrário às tendências da época, ostentando suas ideias pouco convencionais e modos não ortodoxos, as pessoas vão achar que você está apenas querendo chamar a atenção e se julga superior. Acharão um jeito de punir você por fazê-las se sentir inferiores. É muito mais seguro juntar-se a elas e desenvolver um toque comum. Compartilhe a sua originalidade só com os amigos tolerantes e com aqueles que certamente apreciarão a sua singularidade.
A citação de Baltasar Gracián reflete a ideia de que a verdade é frequentemente incompreendida ou rejeitada pela maioria das pessoas. Gracián está argumentando que a verdade é para uma minoria, enquanto o erro é comum e, muitas vezes, aprovado pela maioria, indicando que poucas pessoas realmente compreendem ou aceitam a verdade em sua forma mais pura e preferem dar espaço ao que seja totalmente questionável ou infundado.
Ele continua explicando que mesmo uma pessoa sábia não deve necessariamente expressar suas opiniões e conhecimentos livremente no ambiente público (ou "mercado"), porque lá suas palavras são distorcidas pela opinião da maioria. No mercado, as pessoas não estão interessadas na verdade, mas nas ideias que são populares ou aceitas pela maioria. O sábio, portanto, fala com sua própria voz no silêncio de sua reflexão íntima, evitando a controvérsia pública. Quando o sábio compartilha seu pensamento, ele deve fazê-lo com uma minoria discreta, um grupo seleto de pessoas que são capazes de compreender e apreciar a verdade.
Essa citação destaca a natureza muitas vezes solitária da busca pela verdade e sugere que os verdadeiros pensadores e sábios podem enfrentar resistência e incompreensão por parte da sociedade em geral. Ela também destaca a importância da sabedoria em discernir quando e com quem compartilhar conhecimento, sendo cauteloso ao escolher os momentos adequados para expressar ideias verdadeiras e significativas.
A lei sugere que, por vezes, é mais vantajoso esconder suas opiniões e crenças verdadeiras e adotar uma postura que seja aceitável e comum para a maioria das pessoas ao seu redor. Ao exibir ideias e conceitos não convencionais, você pode ser visto como ameaçador ou arrogante pelos outros. As pessoas podem interpretar suas opiniões fora do comum como uma tentativa de se destacar ou de se colocar acima dos demais. Isso pode levar a reações negativas, ciúmes e até mesmo represálias por parte das outras pessoas.
A essência dessa lei está relacionada ao entendimento de que, em certas situações, é mais sábio seguir as normas sociais e se comportar de acordo com as expectativas do grupo, mesmo que interiormente você discorde delas. Esconder suas opiniões e adotar uma postura que não cause atritos pode ajudá-lo a evitar conflitos e a ganhar a aceitação das pessoas ao seu redor. No entanto, é importante notar que essa abordagem também tem suas limitações e pode levar à falta de autenticidade e à supressão do seu verdadeiro eu em determinadas situações. É crucial encontrar um equilíbrio entre se adaptar ao ambiente social e manter sua integridade pessoal.
Essa lei nos traz a um dilema milenar. As percepções que temos ao longo de nossas vidas deixam claro que não existe VERDADE ABSOLUTA, mas nos direciona a saber o que é CERTO ou ERRADO. O que nos leva a uma grande preocupação é que as inversões de valores que temos em nossa sociedade está nos conduzindo a um caminho sem volta cheio de dúvidas e arbitrariedades. Vamos a alguns exemplos práticos: matar pessoas por simples discordância de opiniões, crenças ou raças, estão sendo vistas como algo que “pode acontecer e até ter defensores”. Fragilizar criminosos ao invés de exaltar a abordagem de policiais frente aos mal feitores é tido como normal. Defender minorias sem levar em consideração a opinião da maioria está virando regra e ampliando ainda mais a segregação. Acho que o mundo está precisando de um “FREIO DE ARRUMAÇÃO” ou “PARAR DEFINITIVAMENTE” e tentar se REINVENTAR porque os próximos capítulos dessa novela chamada mundo não caminha para um final feliz.
E para fecharmos o nosso artigo é importante entender a regra pela visão do mercado (produtos e serviços) que precisam de narrativas, campanhas criativas (muitas vezes enganosas), sensibilizar demandas, mas em momento algum pôr em risco a integridade física das pessoas. Por outro lado, a vida num contexto mais amplo está nos levando a triste conclusão de que acertamos no varejo (no nosso mundinho) e erramos no atacado (no mundo de verdade), tudo isso graças a uma discussão do que é verdade e do que é mentira, do que é malandragem ou honestidade e o pior de tudo do que é certo ou errado. O projeto do ser humano é muito bom, mas está sendo estragado por ele mesmo. Está na hora de repensarmos ou, até mesmo, reinventar o mundo.
Mantenha seus princípios como seu guia, observe o comportamento dos outros e decida a melhor forma de agir, mas jamais se distancie do seu eu – Mantenha sempre uma postura de observador tendo como base os seus valores, a sua verdade e a manutenção de sua integridade física e moral. Defenda suas ideias e convicções sem precisar agredir ou diminuir ninguém. Busque suas conquistas pelo convencimento e apenas se adeque a discursos da maioria, se esses não tiverem como objetivo aniquilar pessoas, grupos ou pensamentos. Compartilhe a sua originalidade sempre, mantendo sua postura e certamente sua singularidade será apreciada.
Por: Weber Negreiros
CEO da WN Treinamento, Consultoria e Planejamento
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